O Barrense


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“Vocês gaúchos não parecem brasileiros”

 

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Neste semestre tive a oportunidade ímpar de estagiar em conjunto com um Mexicano: Joaquín.

Meu primeiro contato com o “chicano” foi quando o vi deitado nas arquibancadas do estádio da universidade. Descansando, provavelmente não queria nenhum “brasileño” importunando seu sossego. Porém, não pude deixar de reparar em sua camiseta, do Pachuca, que posteriormente tomaria conhecimento ser o time do coração de Joaquím.

– Pachuca?
– Sí!
– No creo! Pachuca perdeu pro Inter na Libertadores. No puede!

Prontamente ele se pôs de pé e veio em minha direção. Nos cumprimentamos de maneira enrolada, mãos mais perdidas que adolescente com a primeira namorada.

– Gremista?
– Claro!
– No había manera de derrotar al Inter en ese año!
– Pois é, eles tinham um bom time. E o América do México, que me diz?
– No, no, no. América es una mierda! Nunca ganó el Sulamericana.
– Hahahaha, tá certo. Vô indo nessa, dale Pachuca!

Diálogo tão rápido e efêmero quanto à troca de passes da Espanha. Mas o bastante.

E hoje, as vésperas da Copa do Mundo travamos uma prosa curiosa.

– Então, até quando você fica em Porto Alegre?
– Treinta de junio.
– Certo, e vai pra onde?
– Curitiba e São Paulo.
– Rio de Janeiro não?
– Sí, sí. Durante lá final.
– Bah! Viverás a Copa em sua plenitude.
– Para bien o para mal.
– Não repetiremos 1950.
– Usted tuerce pro Brasil?
– Claro, porque seria diferente?
– He visto a muchos gauchos torciendo contra el equipo. Eso no parece como brasileños.
– Essa doença tem nome: bairrismo.
– Enfermedad? Bairrismo? No entiendo.
– Os gaúchos acreditam que o sul deveria ser independente. Desdenham dos demais estados. Nos achamos auto-suficientes.
– Es una peculiaridad de usted, difícil de entender.
– É questão cultural, se arrasta durante décadas…
– Um, y lo que piensa la Copa del Mundo?
– Vai ter copa, e se reclamar vai ter duas. Brincadeiras a parte, o Brasil tem outras prioridades: saúde, educação, saneamento básico, enfim, pendências de um país de proporção continental. Mas sou brasileiro, e como tal, torço por nosso país.
– Entiendo. Muy similar a la México.
– E quanto ao México, qual expectativa pra Copa?
– El peor posible.
– Não acreditam na seleção?
– Por supuesto que no. No creo que pasamos por la fase de grupos. Para tener una idea: Durante un año hemos cambiado tecnico cuatro veces.

Seguimos trocando amenidades e curiosidades de nossos países, tais como: Políticos inescrupulosos e corruptos; como é fazer fronteiro com os yankees; a gastronomia mexicana; enfim, trocando figurinhas culturais.

É véspera de Copa, e Porto Alegre não está pulsando. Tudo perfeitamente normal na aldeia.


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Eu sou apenas o Jacaré

Cidades e seus personagens folclóricos. Certa feita um destes personagens foi perguntado o que achava do atual cenário político, ele respondeu:

– Eu não levo as coisas às altas atenções, mas sou um bom analisador, apenas não quero criticar, você sabe como é. Eu deixo que as visões do povo se deixem declarar. Se alguém enxerga, como se diz: em terra de cego, o bom rei é aquele que tem olho. No dia que o povo enxergar nós vamos adiante.

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Assalto

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Caminhando pelo centro…

– Não grita! É um assalto!

Não acredita. Oolha para os lados. Aquela multidão de pessoas e ela sendo assaltada entre elas, o sujeito conseguiu sem levantar suspeita alguma.

– Olha pra mim. Pra mim!
– Certo, certo.
– Vamo lá, passa tudo.
– Cara, você tá muito nervoso. Calma!
– Anda, anda.
– Não sei quais teus motivos, mas não precisa se alterar.
– Tá certo, mas e aí, como fazemos então?
– Olha só, vamos ali pro canto que eu te passo tudo. Sem estresse, ninguém por perto e saio caminhando sem olhar pra trás. O crime perfeito.

Foram pro tal canto.

– Estamos no canto, agora passa tudo.
– Calma! Vou te passar tudo. Só quero que tu não faça alguma coisa errada.

Abre a bolsa e logo enxerga seu celular antiquíssimo e a câmera da qual é seu ganha pão. Com uma manobra sorrateira consegue esconder a câmera em outro compartimento da bolsa e dar apenas o sucateado celular.

– Toma aqui. É só o que tenho. Olha minha bolsa!

Ela mostra a bolsa. De fato, não havia mais nada, naquele compartimento. Ele assente é “aceita” o celular. E inesperadamente abraça a moça. Ela “aceita” o abraço, afinal, estava sendo assaltada e sabe-se o que o tal do ladrão poderia fazer se ela negasse o abraço.

– Fica com Deus, moça – disse ele, partindo.

No fim das contas, ele levou um celular antiquado e um abraço gelado.

(conto baseado no que viveu @bruvalentini)


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Banco “roubamos seu dinheiro”

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– Alô.
– Bom dia, por favor, o Senhor Claudio está?
– Depende.
– Como assim, depende?
– Ele está, mas só atende a quem lhe convém. Preciso avisar previamente.
– Ãhm, certo, entendo.
– Então, quem deseja?
– Banco “roubamos seu dinheiro”.
– Só um momento…

Alguns instantes depois…

– Ele mandou dizer que não está. Alias, para vocês ele nunca estará. Desistam.
– Temos uma oferta irrecusável pra ele.
– Ah, ele falou dessa oferta. Nesse caso, ele esta viajando pela Europa. Só volta no ano que vem.
– Ele nem conhece nossa proposta.
– E não quer conhecer.
– Mas…
– Minha jovem, porque diabos meu senhorio precisaria do credito de vocês?
– Para realizar seus sonhos.
– E se, os sonhos dele, independem de grana?
– Há coisas que só o dinheiro pode comprar…
– Agora a felicidade esta a venda?
– Parte dela, sim!
– Não se rebaixe tanto, você não precisa disso.
– É que eu preciso atingir minha meta, senhor. Minha vida esta de cabeça para baixo.
– Todos precisam atingir metas, basta você escolher quais devem valer seu esforço.
– Hum… Imagino que ficar importunando os outros com propostas indecentes não vale um terço do esforço que invisto nele.
– Aí esta. Entende, agora?
– Sim… O banco “roubamos seu dinheiro” agradece sua atenção.
– Não há de que, boa vida.


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O que o inferno de Dante reserva aos corruptos?

A genial obra do escritor Dante Alighieri, a divina comédia humana, revela a expiação que afligirá uma série de pecadores. Veja qual flagelo caberá aos corruptos.

Em sua obra a “Divina Comédia”,  o escritor italiano Dante Alighieri modificou o pensamento humano  e alterou, de sobremaneira,  a cultura cristã moderna. E suas descrições acerca do ‘inferno” e do “céu” dominam o inconsciente coletivo da maior parte das pessoas.

Com as alegorias literárias deste gênio pudemos visualizar um cenário nebuloso e temido: o inferno. A própria noção de que o inferno é cheio de fogo e piche ardente vem da mente deste brilhante escritor. E sua obra ficou mais popularmente conhecida como o “inferno de Dante”.

Em linhas gerais, “A Divina Comédia” descreve uma viagem de Dante através do inferno, purgatório e paraíso. Sem nos esterdemos muito, e não é este o objetivo do ensaio, o inferno está dividido em nove ciclos; que por sua vez estão dividos em fossos.

Cada ciclo e seus fossos correspondentes são destinados a um tipo de pecado específico e com uma forma diferente de expiaçao (puniçao da culpa).  Assim, da leitura desta obra percebe-se que o ciclo destinado aos corruptos é o oitavo.

Neste, o Inferno chama-se Malebolge (fraude) e é descrito como sendo todo em pedra da cor do erro, assim como a muralha que o cerca. Aqui estão os fraudulentos. O Malebolge, por sua vez,  está dividido em dez fossos(ou Bolgias).

O Quinto Fosso é o local destinado àqueles que desviaram o dinheiro público deixando às populações sem atendimento médico, merenda escolar e saneamento básico, dentre outros. É a Vala dos corruptos. Nela os corruptos estão submergidos em um piche fervente; os que tentam ficar com a cabeça acima do caldo são atingidos por flechas atiradas por demônios.

Em vida, os corruptos tiraram proveito da confiança que a sociedade depositava neles; no inferno estão submersos em caldos, escondidos, pois suas negociações eram feitas às escondidas. Um ótima perspectiva para àqueles que assassinaram gerações com seus atos ímprobos.

A vida e obra de Dante Alighieri

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Dante nasceu em Florença em 1º de junho de 1265 e faleceu em Rávena no dia 14 de setembro de 1321. Foi um  escritor, poeta e político italiano. Sendo considerado o primeiro e maior poeta da língua italiana, definido como il sommo poeta (“o sumo poeta”).

As crenças populares cristãs adaptaram muito do conceito de Dante sobre o inferno, o purgatório e o paraíso, como por exemplo o fato de cada pecado merecer uma punição distinta no inferno.

O poema chama-se “Comédia” não por ser engraçado mas porque termina bem (no Paraíso). Era esse o sentido original da palavra Comédia, em contraste com a Tragédia, que terminava, em princípio, mal para os personagens.


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Apresentado a realidade

A triste realidade que balançou minhas estruturas emocionais. Não se trata de fantasia. Sem era uma vez e impossível ou improvável final feliz.
Por ironia do destino, este historia teve inicio em lugar incomum: Faculdade privada, mas com projeto social. Ou seja, polarização das atuais sociedades brasileiras. Enquanto parcela minoritária da sociedade esbanja poderio econômico, outros catam migalhas publicas. Completo descaso da união para com seu povo. Ambos representando a desigualdade social abismal que estamos inseridos.

Sem mais rodeios…

Eu e mais três colegas tínhamos de realizar um trabalho voltado a projetos sociais. Por preguiça ou algo semelhante, fomos na própria universidade. Mal sabíamos, mas ali, pelo menos eu, fui apresentado à realidade, nua e crua.
Realizamos conversa informal e descontraída com alunos para saber o que almejavam. O que esperavam do seu futuro. Respostas mais do que conhecidas, como: jogador de futebol; astronauta; bombeiro; medico; atriz; modelo. Uma fugiu da normalidade, nos fulminou. Acertou em cheio nosso microuniverso capitalista. Um menino, com idade girando em torno de onze anos nos relatou:

– Meu sonho é ter um cavalo, carroça e catar latinhas. Onde moro quem os tem é rico. – disse ele, sem pestanejar.

Acusamos o golpe. O silencio se impôs.

– Mas você não quer ser igual seus coleguinhas? – Rebatemos.

– Não adianta tio! Nunca ninguém foi isso na comunidade. – concluiu.

O garoto pôs fim a efêmera conversa. Um cruzado nos fez beijar a lona.

Não estou julgando o valor moral da profissão. Mas o sonho de uma criança. Preocupada com seu futuro e o que deseja ser “quando crescer”. O pequenino na contramão da constituição infantil: Crianças não devem se preocupar.
Crianças simplesmente vivem a plenitude da vida. Deveriam desbravar sua imaginação fértil, brincar, correr. Ter direito a ensino de qualidade, segurança onipresente e sistema de saúde qualificado e de fácil acesso.
Em algum momento nos perdemos. Estes direitos lhes são negados. Crianças tornam-se homens, país de família prematuramente. Meninas tornam-se mães em piscar de olhos.

***

O poema abaixo retrata o quão bela era nossa infância, ou deveria ser. Momento nostálgico:

Saudade de:

Quando meu único medo era o escuro

Minha unica preocupação meu brinquedo quebrado

Minha unica dor era do joelho ralado

O destino nos prega peças. Um pequenino carregando fardo além de sua capacidade. Adulto em pele de criança. Ele sabe que o futuro o espreita, sordidamente. Tramando contra si algo maléfico. Ele acostumasse um pouco mais a esta realidade – é claro que nunca poderia acostumasse inteiramente. O tempo passa e nada muda o encontro é  inevitável.

***

Nenhuma criança deve sofrer com síndrome do adulto: preocupação. Especialização precoce é pular etapas.O menino sofria desta precoce “adultice”, triste realidade. Ele não tinha expectativas de estudar, sair do seu mundo. Ali era seu mundo. A comunidade. Seu microuniverso as margens da sociedade. Um cavalo esta para o menino como um carro esta para o burguês em miniatura.

A disparidade colossal entre classes é visível a olho nu. Mas carece de olhar especifico. A realidade do mundo exterior vista por todos, sem vendas, causa transtorno em nosso âmago.

Esta a realidade humana. De maneira alguma desumana, pois este ser provido de inteligência, superior aos demais, construiu sua ruína. Criamos nosso monstro e não podemos lamentar se ele derrubar alguns prédios. Nosso Frankenstein, nosso Godzilla, repleto de idiossincrasias capitalistas.

Abri meus olhos a uma realidade diferente. Sem cor. Sem final feliz. Um paraíso as avessas.

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Desvendando Eike – Fator sorte

Antes de chegar no “x” da questão, lhes convido a compreender o fator sorte na vida de Eike.

Tudo iniciou no retorno ao “novo mundo”. Porém, um desvio de rota mudaria bruscamente a pacata vida em que Eike estava condenado. Intempérie no aeroporto de Londres o forçou a pousar na Irlanda, mais precisamente, Dublin. O tupiniquim estava entusiasmado, durante sua estada na Europa não conhecera a Irlanda. Afinal, quem reclamaria de dois dias na Irlanda com tudo pago?

Após rodar por pub’s irlandeses e embriagar-se da melhor cerveja europeia, podia-se sentir o gosto da cevada colhida na primavera Bavária, e fermentada em barris de carvalho, a sorte brindou Eike.

Duplamente embriagado a distração abraçou Eike, sem perceber desviou de sua rota, diante da beleza urbana de Dublin e o teor alcoólico que perambulava por sua vias sanguíneas. Flutuando por vias o jovial rapaz despontou em um bosque. Iluminado, arborizado, tipicamente holliwodiano. Algo despertou a atenção de Eike, o trazendo a realidade e quebrando o encantamento. Arbustos balançavam incessantemente, Eike aproximou-se lentamente. Fitou a uma distancia segura e o cutucou com uma vareta.

– Eeeeeei! – disse o arbusto, ou o que quer que esteja dentro do mesmo. Uma voz aguda, que de súbito alfinetou a cabeça alcoólica de Eike.

– Que esta aí? – indagou Eike.

Um “sonoro” silencio pairou no ambiente. Palavras não surgiram, entretanto, algo ainda mais espantoso eclodiu do arbusto: um ser esguio, com vestimenta espalhafatosa, predominantemente verde, orelhas pontudas e um sorriso maligno no rosto. Um típico duende irlandês. Eike estalou os olhos. Estaqueou, mantinha-se pasmo frente ao que lhe parecera. Matutava em sua cabeça se era possível tal acontecimento. Um duende?

(Duendes são pequeninos seres de orelhas pontudas e sorriso esquisito. Gostam muito de brincar e, às vezes, pregam peças nas pessoas. Brincaram com Eike)

– Não esta acreditando? Sou real. – disse o pequenino.

– Nnnnnnão… – as palavras não saiam da tremula boca de Eike.
Novamente o “ensurdecedor” silencio imperou entre ambos. Apenas fitavam-se, feito dois pistoleiros, quem seria o primeiro a sacar a pistola?

– Hehehe… Irlanda, duendes, sorte. Entendi. Bela tentativa, quase me pegou. Marketing de primeira. Boa noite. – disse Eike ao pensar ter desvendado o fatídico causo que presenciara.

– Se assim desejares… Mas saiba que encontraste o final do arco-íris, o pote de ouro. Não deseja a recompensa? – com um sorriso no olhar o duende instigou Eike.

– Tesouro?

– Você conhece a lenda.

– Então, onde esta o pote.

O duende estendeu a mão em direção a Eike, alcançando suas canelas. Eike agachou-se. A embriaguez aliado ao ego altivo bloqueou qualquer percepção de Eike frente ao duende. Havia algo de sombrio na proposta do pequeno ser verde. Nosso conterrâneo não titubeou, ignorou a palpável tensão no ar, aceitou a proposta daquele ser folclórico, e incrivelmente, real.

– Feche os olhos.
Eike os fechou

– Abra sua mão.
Eike a abriu e duas peças caíram em suas mãos. Ao abrir os olhos deparou-se com elas…

– Onde esta o tesouro?

– Em suas mãos.
Novamente Eike analisou o que lhe foi dado. Uma moeda de ouro com um estranho brasão e um trevo de quatro folhas.

– A crise bateu a porta dos duendes? Uma moeda de ouro?

– Será mais útil do que um pote.

– E o trevo?

– A sorte que você precisa… Mas saiba que não será eterno, dentro de algum tempo lhe pedirei de volta, faça bom proveito. – A ironia era nítida no rosto do duende. Sabia o destino de Eike e estava pronto para lhe pregar uma peça.

Momentaneamente Eike não acreditou na baboseira do duende. Guardou o trevo e a moeda na carteira e seguiu seu caminho…
Ao acordar não recordara nada da noite passada. Salvo o encontro entre ele e um duende de voz irritante. Julgou ser um sonho.

Após tomar um reconfortante banho e café, desceu para o saguão do hotel. Puxou sua carteira para passar o cartão na catraca e percebeu que nela havia um trevo de quatro folhas e uma estranha moeda reluzente. Pegou-a e mordeu, era ouro.
Questionou internamente, “então não fora um sonho? Mas duendes?”
Não encontrou resposta plausível a sua indagação.
O dia decorreu como esperado. Nada o surpreendeu. Alias, as horas arrastavam-se em Dublin e, diferente dos demais países europeus, o povo irlandês lhe parecia simpático e acolhedor. Inacreditavelmente não pagou por seu almoço e bebeu gratuitamente no bar da esquina.
O clima desanuviou antes do previsto e Eike deu adeus ao velho continente. Ainda sem encontrar respostas frente ao inusitado encontro da noite anterior.
Inexplicavelmente Eike tomara o vôo errado e destinou-se para Nevada, Las Vegas. Não compreendera como errara o terminal. Comunicou a empresa e a mesma lhe garantiu estadia em Las Vegas, sem custo.

Hospedaram-no em um luxuoso hotel. Quarto estrondosamente grande.
Iniciante em jogos de azar, Eike foi o mais clichê possível, destinou-se aos caça-níqueis. Abriu sua carteira, colocou o trevo sobre a maquina e a moeda de ouro no bolso.

Maçã-maçã-maçã.
– trim, trim, trim.

Moedas brotavam de uma pequena portinhola na maquina. A noite decorreu com seguintes e inusitados eventos contraditórios a leis matemáticas de probabilidade. Eike não percebeu, talvez anestesiado pela euforia de fazer fortuna em um cassino. Mas, alguém o espreitava. Com sorriso no olhar, pequenino, vestido de verde, um relógio antiquado, para padrões de sociedade, em mãos. O duende irlandês fitava Eike, com o sorriso sarcástico que era inerente a sua face carrancuda. Aparentando caçoar do futuro. A sorte o havia beijado, seu destino reescrito.

Pós Las Vegas Eike tornara-se homem de negócios. O garimpo o impulsionou. O homem com nome curioso alçava grandes vôos. Analistas não encontravam explicação. Tornou-se imperador no Brasil: O Grande Eike. Bem verdade que com certos privilégios. A maré era tamanha que denominaram com o nome do afotunado e todos a surfavam. Que seja belo enquanto dure. O vôo foi rápido demais. Eike, em curto período de tempo, encabeçava lista dos dez mais bilionários do planeta. O trevo de quatro folhas e a moeda seguiam na carteira de Eike, incompreensivelmente conservados pelo tempo. Ele os mantinha na carteira para não desafiar a sorte, embora não os julgava como preponderante nos negócios. Mas não fechava um contrato sequer sem possuí-los no bolso. Já fizera algo do tipo e misteriosamente o negocio não aflorou, permaneceu em um báratro inexplicável. O pequeno duende avistava tudo incrédulo, subestimara o real potencial de Eike. Perante os fatos decorrentes, havia desarmonizado os pólos da sorte. Eike a possuía em demasia. Um casamento perfeito. Era chegado o momento de retomar o amuleto.

Não havia lugar melhor para recobrar a sorte do que um ambiente em que se depende dela. Novamente Las Vegas.
Eike encontrava-se no poker. Sequencias reais desabrochavam nas mãos de Eike. Flush. Full-house. Eike quebrara a banca em duas mesas. Depenara seus concorrentes. Após destinar-se a terceira mesa, Eike observou que havia um anão na mesa. Riu com o canto da boca e sentou ao seu lado. O jogo se desvendou para dois jogadores: Eike e o suspeito anão. Demais jogadores abandonam a mesa. Era questão de honra limpar seu adversário. Nitidamente Eike esbanjava confiança e astucia. Altivo e atrevido em suas apostas. Um reflexo de sua vida em sociedade. Havia até batizado seu filho com nome de Deus, Thor, deus do trovão.
Uma jogada desmoronou o castelo do até então sortudo. Duas sequencias reais. O crupie desacreditou. Eike perplexo. Estava crente na vitoria. Páreo corrido. O anão sorriu, seus olhos brilharam. Eike o reconhecera, não havia como confundir tais olhos e vestimenta, tratava-se do duende irlandês. O ganhara com uma sequencia real alta, de dez a azes.

– Sorte – disse, inconfundivelmente o duende e sua voz aguda, sorrindo.
Eike não dera o trabalho de responder.

– Vim lhe cobrar algo que me pertence – prosseguiu o duende – lhe avisei, tenho visto que fizera bom proveito.

– Do que esta falando? – desconversou Eike

– Não se faça de sonso. O trevo e a moeda. – rispidamente disse o duende.
Eike acusou. Um torpedo lançado em suas estruturas. Finamente encontrara resposta e pergunta de outrora. Não fora sonho, o encontro na Irlanda fora real.

– Sem problemas, aqui esta – disse abrindo a carteira e avistando seus talismãs.

Inicialmente não os entregou. Manteve-se resistente em largar seus preciosos amuletos. Mas, confiante em seu potencial, os entregou.

– Não preciso deles, fiz fortuna independente deles.

– Todos dizem o mesmo…

Eike deu as costas para o duende e seguiu em suas andanças pelo cassino. Em uma noite perdera cifras colossais no poker, roleta e caça-níquel.
Era o começo do fim. O castelo de areia ruiu.

Na penumbra de uma mesa de canto encontrava-se o inconfundível algoz de Eike. Sua vestimenta formal, o clássico verde, sapatos brancos e o velho sorriso irônico estampado no rosto. O duende o espreitava. De camarote assistia a bancarrota do agora desventurado Eike.  Achava irônico como a sorte abandonava os até então afortunados sem cerimônia alguma. No caso de Eike, desventuras em serie estavam fadadas a acontecer. O trem descarrilou, o maquinista cego.

Eike retornou ao Brasil consternado. Jamais perdera tamanha quantia em tão curto período de tempo.

Um furacão financeiro abalava wall street, Eike no olho, sem prumo. Uma crise jamais vista, de enciumar 1929. O visionário brasileiro perdera controle de seu império. Ações despencando feito montanha russa.
Seu capital era menor que suas dividas. Foi expulso do clube de bilionários, sem cerimônia. Seu contracheque não correspondia aos demais.

Demorou para o estalo acordar Eike. E quando aconteceu, desejava voltar a sonhar e não viver o pesadelo financeiro que teimava em persegui-lo. Quando deu por si, não se encontrava na lista dos dez mais. Seu potencial administrativo questionado. Solução? Eike destinou-se a Irlanda. Por confusão e impaciência,  foi de classe econômica, feito sardinha enlatada.
A viajem o estraçalhou, e, no entanto, sequer pensou no hotel. Sua cabeça matutava o reencontro com o pequenino. Durante a longa e extenuante viajem, sonhou o reencontro. Percorreu as ruas de Dublin sem sucesso. Chegou a refazer o passo a passo da sinistra noite, sem sucesso. Não recordava como era o bosque e, a quem perguntava, não obtida a tão sonhada reposta.
A “caça” ao tesouro lhe deixara transtornado. O clima não lhe era favorável. As horas corriam.
O duende restringia-se a observar o desatino do agora desafortunado Eike. Brindando a normalidade do acaso.
Subitamente Eike deparou-se com um arbusto. Momentaneamente apenas o fitou. Arregalou os olhos e empalideceu. Seus sentidos enuviaram. O que recobrou sua memória foi o tão sonhado chacoalhar de galhos que recordara da fatídica noite.
Correu ofegante a seu encontro. Desta vez não usou de cerimônias, nada de gravetos para cutuca-lo. Logo o vasculhou. Nada encontrou.

– Bem vindo ao mundo real… – disse uma conhecida voz, causando agonia em Eike, aguda como recordava no primeiro encontro.

Eike tornara-se Batista. Amigos e familiares confidenciam que Eike tornou-se supersticioso. Uma cisma com dois amuletos que o mesmo jura ter no passado, mas ninguém recorda. É comum encontra-lo em briques, a procura de moedas com brasão jamais visto e em campos verdejantes esgravatando por trevos de quatro folhas.

Mais humano, menos Deus.


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Onde estão nossas vidraças?

O país de proporções continentais segue engatinhando. Almejando, em breve, como um salto, finalmente poder se sustentar e dar os primeiros passos. De fato, nossa criança apenas engatinha pelo fato de ter pais superprotetores.
O parágrafo acima é uma relação com o Brasil e incessantes intervenções estatais. Tais atitudes beneficiam grupo seleto de empresários nos condenando a oligopólios e cartéis. Gerando sucateamento da indústria e infraestrutura as moscas. O Brasil vai à contramão da receita básica de crescimento. Falta o fermento. Estamos estagnados, puxamos o freio de mão. É preciso se reinventar.

Tecnologia atrasada, uma afronta à globalização atual. Pergunto-me em qual curva nos perdemos? Nas estradas de Santos?
A “carrasca” Dilma impõe carta magna de empecilhos a provindos do exterior. Empresas com raízes brasileiras crescem, tornam-se soberanas, porém, sem concorrência, se auto induzem a estado de torpor, infame zona de conforto. Sem contar taxa de rendimento no setor, baixo em relação a países do BRIC’S ou desenvolvidos. A indústria brasileira não compensa investimento, pois não há retorno.

Eis que a infraestrutura precária brasileira afugenta qualquer espécie de investimento, quando abrimos nossa casa para “estranhos”.
Após décadas de lapso governamental no ramo estrutural, nossos governantes acordaram do sonho e caem na sombria realidade. Um país com economia “estável” ou atrativa, mas que deixa a desejar em outros aspectos: infraestrutura; carga tributaria; mão de obra desqualificada; intervenções em demasia, o famoso protecionismo. Todos os casos passíveis de solução, porém, carecem de tempo. Não será em estalar de dedos que galgaremos o Everest.

Em tempos que espessas nuvens negras cobriam o país, nossos governantes deram as costas para nossa abençoada geografia. Este país de riquezas naturais aos quatro cantos. Abençoado por longa costa marítima. Diversidade cultural. Entre outros infindáveis quesitos.
Onde estão nossas ferrovias? O pífio transporte marítimo? Ou o transporte aéreo sucateado? O tridente de Hades. Unidos gerando caos na matriz rodoviária.

O “boom” econômico que desfrutamos e, aparentemente, cessou, terá sua volta quando investirmos em qualidade, seja ela mecânica  estrutural ou humana. Colocar os bois na frente da carroça é novamente dar as costas ao país. O povo tupiniquim carece de investimento, sem insanidades.
Nosso microuniverso polarizado deve ser extinto. O abismo entre classes abalroando nosso futuro. Não deveríamos trocar, sequer meias-palavras, com desigualdade social. Esta desigualdade que corrompe o homem, nos torna o lixão do mundo. Já dizia o mestre Ja dizia Jean-Jacques Rousseau: “O homem nasce bom e a sociedade o corrompe”.

A partilha brasileira entre obras voltadas a infraestrutura é polarizada. A matriz rodoviária abocanha grande percentual. Demais nichos colhem migalhas e partilham entre si.
Reparem que sequer mencionei questões vitais para manter o anacrônico sistema em perfeito funcionamento. O tridente de Zeus: Saúde; Segurança; Educação. Pilares de qualquer país desenvolvido ou que busca tal denominação.

Obs: No ramo da educação um adendo. Não estou me referindo à educação voltada ao mercado de trabalho ou vestibular. Arcaico modelo implantado por Getulio Vargas que ainda perduram: SESC, SENAI.
Na atual conjuntura mundial é preciso instigar o aluno. Tornar cidadãos críticos e criativos. Ir alem desta mundana realidade na qual estamos inseridos.

Vinicius de Moraes profetizou o que seria o Brasil.

Era uma casa muito engraçada
Não tinha teto, não tinha nada

Ninguém podia entrar nela, não
Porque na casa não tinha chão

Ninguém podia dormir na rede
Porque na casa não tinha parede

Ninguém podia fazer pipi
Porque penico não tinha ali

Mas era feita com muito esmero
Na rua dos bobos, número zero

Os nacionalistas de plantão com seus âmagos exaltados que me perdoem, mas nossos sucessivos governantes e suas atípicas e arcaicas maneiras de lidar com a democracia nos tornaram o que somos hoje. Manipularam o país como se fosse clube de futebol. Ou seja, priorizando relações partidárias e laços afetivos. Colocando em segundo plano a profissionalização.

O titulo: Onde estão nossas vidraças. Possui nexo? Encaixa-se neste descaso governamental?  Sim! Pelo simples fato de não possuirmos vidraça. Não há janelas. Quiçá paredes para tal. Nossos arquitetos não finalizaram o projeto. Bem verdade que o começamos, mas falta levantar as paredes e colocar um teto sob nossa cabeça. Afinal de contas, em qualquer faceta monetária, a mão natureza é constante, chuvas e trovoes são fenômenos naturais.

O PIB brasileiro, com um terço baseado na carga tributaria, deve fazer jus a seu propósito: voltar em beneficio à sociedade por meio de obras de qualificação seja elas pessoais ou estruturais. O povo tupiniquim clama por qualidade a altura das cobranças no final do mês.

É chegado o momento de projetos se tornaram realidade. O enfoque devem ser questões fundamentais de convivência. Pilares de uma sociedade “autossustentável” – utópico no capitalismo, mas o almejamos – que busca convivência plena de conceitos Edênicos.
Apenas o futuro dirá se estas decisões serão corretas, entretanto, parafraseando Neil Armstrong, este é um pequeno passo para um governo, mas um grande salto para uma nação.


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Regras da rodoviária:

– O banheiro do segundo andar é sempre mais limpo. Ainda que seja sujo. Logo, o banheiro de baixo é imundo, insalubre.

– Vai soar rude. Mas, quando você estiver com pressa de comprar a passagem, analise as filas. Quanto menos idosos, melhor.

– Prefira comprar nas lancherias periféricas, vai pesar menos no bolso. Porém, se deseja realizar uma refeição, escolha as principais.

– Aprenda a conviver com a fritura.

– Se torne amigo dos fiscais. Em um dia de azar, ele pode facilitar sua vida.

– Se tempo é dinheiro, não confunda Frederes com ACV. Ou comum com direto. Estadual e Federal.

– Pasteis de rodoviária são os melhores. Delicie-se neles, afinal de contas, a fritura esta no ar.

– Olho em tudo e em todos. Desde o guinchê querendo lhe empurrar passagem com seguro – você não precisa, confia no motorista, não? – ao receptivo atendente das lancherias – olho no cardápio, o preço pode variar no caixa. Habituado a viajar nos feriados? Fique de olho nos batedores de carteira.

– Guichê para idosos é preferencialmente destinado a eles, mas nada impede de você usa-lo. Claro, se não houver idosos.

– Se em um Guichê estiver este aviso: em experiência. Encaminhe-se ao próximo. Você não quer ser cobaia, certo?

– Bebedouros e telefones públicos, evite usa-los. A não ser que você goste de levar a vida no limite.

– Sinal wifi. Raridade, luxo. Mas ha uma técnica. Ônibus luxuosos geralmente possuem sinal wifi interno. E não há senhas. Sente-se perto do ônibus e desfrute. Lancherias, em raríssimas exceções, possuem wifi. Se encontrar, peça um café e a senha. Seja feliz.

Desfrute de sua estadia na rodoviária – algo que duvido muito.


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Falta personalidade ao Grêmio?

“Pra que mentir
Fingir que não acabou
Tentar ficar amigos sem rancor
A emoção acabou
Que coincidência é o amor
A nossa música nunca mais tocou”

Adaptação a musica, Beija-flor, de Cazuza que pode refletir a eliminação do tricolor gaucho.

Grêmio e Libertadores, uma relação desgastada pelo tempo. A competição teima em sua libertinagem, não mantém vinculo amoroso. Tripudia, ano após ano, sob seus amantes. Hoje, sequer flerta com o gauchão tricolor.

O Grêmio nos últimos anos vive um conflito de personalidade. Duas filosofias desabrocharam no tricolor. Fundamentalistas clamam por um Grêmio vitorioso em outrora. O famoso estilo que marcou era no tricolor: aguerrido, “raçudo”, calção sujo com resultante de taças no armário. Porém, revolucionários, pregam justamente o contrario. Baseiam-se na teoria que o futebol evoluiu e, por mais simples que aparente, o Grêmio deve seguir o fluxo mundial. Teoria baseada na qualidade, intensidade, e treinadores revolucionários. Parâmetro é o finado Barcelona de Pep Guardiola e atual Bayern de Munique.

09qua_charge_bierEste paradigma perambula pelos meandros do clube. Semelhante à torre de Babel, se não houver congruência entre as partes, não passara de utopia. A torre inicia pela direção, mandatária do clube, mesmo que inconscientemente, é quem define o estilo da equipe ao contratar; A filosofia a ser implantada, estilo, “cara” do time recaí sobre a comissão técnica. No Brasil, sobrevive de resultados, logo a pressão é inerente; Quem coloca a mão na massa são os jogadores, estes que irão demonstrar o resultado final em campo e depende deles a continuidade do trabalho de todos os segmentos. Por final a torcida, se espera dela estádio lotado e paixão, porém cobrança é habitual. O dialogo é essencial, e a exemplo da Torre de Babel, sem ele a obra cessou.

Torcida que critica e não sabe o que quer, o importante é taças no armário, independente do como e por que. E desta maneira não há continuidade, ideologias não se sustentam. Em resultados negativos é trivial vermos a torcida escolher algum “Judas” e sobre ele recair a culpa da catástrofe. Porém, semelhante ao sistema democrático brasileiro, o poder de mudança esta nas mãos do torcedor (sócio). A cegueira impera em ambas as instituições, Brasil e Grêmio, e esperar sentado por mudanças não torna sonhos em realidade.

Afinal de contas, qual é a identidade tricolor, ou tudo isso já é desespero?

 ***

Todos já tiveram uma noite má dormida, em vez de um belo e merecido descanso, sofremos com insônias e pesadelos. Isto remete ao atual momento do Grêmio, pois começou o ano em um conto de fadas, especulações de encher os olhos, mas a bola rolou e os recém-chegados não aprovaram. Um balde de água fria nas aspirações do tricolor dos pampas.

O atual cenário é desolador. E pelo andar da carruagem, Freddy Krueger chegou para ficar.