O Barrense


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Apresentado a realidade

A triste realidade que balançou minhas estruturas emocionais. Não se trata de fantasia. Sem era uma vez e impossível ou improvável final feliz.
Por ironia do destino, este historia teve inicio em lugar incomum: Faculdade privada, mas com projeto social. Ou seja, polarização das atuais sociedades brasileiras. Enquanto parcela minoritária da sociedade esbanja poderio econômico, outros catam migalhas publicas. Completo descaso da união para com seu povo. Ambos representando a desigualdade social abismal que estamos inseridos.

Sem mais rodeios…

Eu e mais três colegas tínhamos de realizar um trabalho voltado a projetos sociais. Por preguiça ou algo semelhante, fomos na própria universidade. Mal sabíamos, mas ali, pelo menos eu, fui apresentado à realidade, nua e crua.
Realizamos conversa informal e descontraída com alunos para saber o que almejavam. O que esperavam do seu futuro. Respostas mais do que conhecidas, como: jogador de futebol; astronauta; bombeiro; medico; atriz; modelo. Uma fugiu da normalidade, nos fulminou. Acertou em cheio nosso microuniverso capitalista. Um menino, com idade girando em torno de onze anos nos relatou:

– Meu sonho é ter um cavalo, carroça e catar latinhas. Onde moro quem os tem é rico. – disse ele, sem pestanejar.

Acusamos o golpe. O silencio se impôs.

– Mas você não quer ser igual seus coleguinhas? – Rebatemos.

– Não adianta tio! Nunca ninguém foi isso na comunidade. – concluiu.

O garoto pôs fim a efêmera conversa. Um cruzado nos fez beijar a lona.

Não estou julgando o valor moral da profissão. Mas o sonho de uma criança. Preocupada com seu futuro e o que deseja ser “quando crescer”. O pequenino na contramão da constituição infantil: Crianças não devem se preocupar.
Crianças simplesmente vivem a plenitude da vida. Deveriam desbravar sua imaginação fértil, brincar, correr. Ter direito a ensino de qualidade, segurança onipresente e sistema de saúde qualificado e de fácil acesso.
Em algum momento nos perdemos. Estes direitos lhes são negados. Crianças tornam-se homens, país de família prematuramente. Meninas tornam-se mães em piscar de olhos.

***

O poema abaixo retrata o quão bela era nossa infância, ou deveria ser. Momento nostálgico:

Saudade de:

Quando meu único medo era o escuro

Minha unica preocupação meu brinquedo quebrado

Minha unica dor era do joelho ralado

O destino nos prega peças. Um pequenino carregando fardo além de sua capacidade. Adulto em pele de criança. Ele sabe que o futuro o espreita, sordidamente. Tramando contra si algo maléfico. Ele acostumasse um pouco mais a esta realidade – é claro que nunca poderia acostumasse inteiramente. O tempo passa e nada muda o encontro é  inevitável.

***

Nenhuma criança deve sofrer com síndrome do adulto: preocupação. Especialização precoce é pular etapas.O menino sofria desta precoce “adultice”, triste realidade. Ele não tinha expectativas de estudar, sair do seu mundo. Ali era seu mundo. A comunidade. Seu microuniverso as margens da sociedade. Um cavalo esta para o menino como um carro esta para o burguês em miniatura.

A disparidade colossal entre classes é visível a olho nu. Mas carece de olhar especifico. A realidade do mundo exterior vista por todos, sem vendas, causa transtorno em nosso âmago.

Esta a realidade humana. De maneira alguma desumana, pois este ser provido de inteligência, superior aos demais, construiu sua ruína. Criamos nosso monstro e não podemos lamentar se ele derrubar alguns prédios. Nosso Frankenstein, nosso Godzilla, repleto de idiossincrasias capitalistas.

Abri meus olhos a uma realidade diferente. Sem cor. Sem final feliz. Um paraíso as avessas.

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