O Barrense


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Liberdade, música e ônibus

Peguei no seu cabelo você diz que ficou louca
Falei no ouvidinho vou beijar na sua boca…

— Boa tarde, senhora!
— Senhorita. Senhora só no céu.
— Como?
— Senhorita. Tenho cara de velha?
— Como queira, senhorita.
— …

Um sinal disfarçado com o jeito safado
Gostoso de me olhar

— Desculpe o incomodo, mas não somos obrigados a ouvir sua música.
— Não estou obrigando ninguém.
— Acredito que sim!
— Mas só você esta reclamando.
— Saiba a senhora que…
— Senhorita.
— Senhorita, tanto faz.
— Não! Definitivamente, não! É senhorita. Nada de senhora, moça, madame ou qualquer outro tipo de ofensa que você possa proferir. Senhorita! Simples.
— Tudo bem! Se assim deseja. Voltando ao assunto, é proibido utilizar aparelhos sonoros dentro do ônibus.
— Hum…
— A senhorita não possui fones de ouvido?
— Não gosto.
— Devia.
— Algum problema, moço? Não gostou do meu estilo musical?
— Não é este o problema.
— Qual então?
— Você esta invadindo minha privacidade.
— Respeite minha liberdade.
— Senhorita! Sua liberdade termina onde começa a minha.
— Que falta de educação. Falando em privacidade e liberdade, mas querendo censurar minha música, minha liberdade de expressão. Seus pais não lhe educaram em casa? No meu tempo…
— Vejo que no seu tempo…
— Pense bem o que vai falar, moleque.
— Senhora…
— Agora é pessoal. Já lhe disse. Quer que soletre? É SE-NHO-RI-TA.
— Perdão. Não era minha intenção ofende-la. Da mesma maneira que você se sente ofendida ao ser chamada de “senhora”, sentimo-nos ofendidos ao escutar sua música. Mas não impomos nada. Questão de bom senso. Pedimos cordialmente que você use fones de ouvido, ou, caso não tenha o utensílio, desligue o rádio.
— É…
— …

Vai no banheiro pra gente se beijar
Bem lá no escurinho pra ninguém desconfiar

— …
— Preciso soletrar? Quem sabe desenhar?
— Tudo bem, entendi.
— Muito obrigado.

A música cessou. O silencio imperou no decorrer da viajem.


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Anjo ou demônio?

Trecho de noticia do dia 07 de abril, um pacato domingo:

“Doze civis morreram no sábado, durante um ataque aéreo das forças comandadas pelos americanos numa aldeia do distrito de Shigal, província de Kunar, junto à fronteira com o Paquistão. Segundo a Reuters, os mortos são 11 crianças e uma mulher. Seis outras mulheres ficaram feridas.”

Estarrecedor, não?

Há quem afirme que Obama é um anjo, salvador da classe oprimida, obviamente cidadãos americanos, porém, do outro lado do globo, julgam-no como demônio, carrasco entre outras denominações.

Em passado recente, o Presidente da super potencia norte americana, Barack Obama, chorou ao receber a notícia do massacre na cidade de Newtown, em Connecticut, quando um jovem norte-americano, Adam Lanza, de 20 anos, matou 26 pessoas em uma escola primária, sendo 20 crianças de 6 e 7 anos, além de sua mãe, morta minutos antes da chacina na própria casa.
Na televisão, em cadeia nacional, Barack Obama verteu lágrimas como um verdadeiro crocodilo. Como é possível chorar pelas 20 crianças covardemente assassinadas em Connecticut e ao mesmo tempo ordenar a chacina de milhares de crianças no Afeganistão, Paquistão, Iraque, Líbia, Palestina, Síria, entre outros países?

Nenhuma dos milhares de vítimas inocentes das guerras promovidas pelos EUA mereceu uma gota de lágrima do atual mandatário estadunidense ou de seus antecessores. O processo de relativização da vida humana segue a passos largos.

Moazzam Begg, ex-detento de Guantánamo e porta-voz Cageprisoners (Oganização cujo objetivo é ajudar os detidos ou mortos ilegalmente como parte da guerra global ao terror.) manifestou sua opinião em relação a Obama:

– Mudança de Bush para Obama? A mudança é de detenções extrajudiciais para mortes extrajudiciais. Obama prometeu transformar a América. Elas estão acontecendo. Mortes extrajudiciais – disse Moazzam.

Realmente é terrível essa guerra “clean” dos drones estadunidenses, “clean” e cínica, pois classifica essas crianças mortas de “danos colaterais.”.

A “fonte” de tanto ódio é conhecida por todos. O famoso “mundo árabe”. Lar de “terroristas”. Ao utilizarmos o termo “mundo árabe”, rotulamos e definimos a existência de dois mundos, o nosso e o deles. E o que acontece lá, no deles, não nos importa tanto. Como se fossem menos humanos.
Dentro desse “mundo árabe” nós tendemos a colocar não só os povos árabes, mas todos os persas, os afegãos e muitos outros povos. Povoamos também esse mundo com todos os muçulmanos do planeta.
Acredito que essas divisões artificiais como mundo árabe ou a dicotomia entre oriente e ocidente só sirvam para aumentar nossos preconceitos e nossa ignorância sobre a complexidade enorme de povos, religiões e culturas.
E assim, jogando todos num mundo diferente, fica bem mais fácil de bombardeá-los.

“Os inocentes mortos no Iêmen – ou no Afeganistão, ou no Iraque – têm escasso valor, quando comparados aos inocentes mortos no Ocidente. São vítimas invisíveis, ignoradas no mundo — choradas apenas num canto que para nós, ocidentais, não é nada.” Paulo Nogueira.

Em 2001, quando Obama nem sonhava em ser presidente dos EUA, o jornalista e escritor Werneck de Castro, da Folha de São Paulo, desvendava o mistério opinando: “Conflitos constantes são necessários, periodicamente, para alimentar o rendoso “business” das armas e testar as inovações tecnológicas na arte do extermínio em massa”. Este sim, é o verdadeiro nó da questão, não as lágrimas do presidente. Neste caso, o tiro está saindo literalmente pela culatra, com a ‘criatura’ se voltando contra seu próprio criador (Exemplos: massacre em Connecticut e atentado em Boston).

E pensar que Barack Obama, o homem que há menos de um ano conduz os destinos da superpotência Estados Unidos, é agraciado com o Prêmio Nobel da Paz logo no seu primeiro ano de mandato.

Obama, Obama. Você será reconhecido por anjo da morte? O mercador de almas?


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Velho

O velho deste caso não se trata de um idoso, tão pouco de peça gasta ou antiga. Este velho se trata da alma de um pobre ser, fatigado, definhando e incapaz de reagir.
Jovem com alma cansada. Semblante exausto decorrente de fatos provindos de nosso cotidiano.

Momentaneamente, o julgamento do caso “mensalão”, esta gerando um patriotismo em torno de Joaquim Barbosa por este executar a simples tarefa que lhe era esperada, justiça. Este patriotismo alavancado pelo caso “mensalão” gera esperança de um país melhor, afinal, os mafiosos foram julgados e, provavelmente, condenados. O país de malfeitores impunes se tornou exemplo para justiça internacional. Mero devaneio.

O problema esta na torneia “jorrante” de casos de corrupção. Não ha exclusividade socioeconômica quanto a pratica de corrupção. Este ato nauseabundo é onipresente em todos os ambitos e, apenas se diferem por montantes envolvidos e relevância na pirâmide socio-democratica brasileira. Rogamos por justiça contra criminosos de colarinho branco, mas que se restrinja a eles, quando for conosco, será injustiça.

Abraham Lincoln pressentia em seus áureos tempos a ruína humana: “Quase todos os homens são capazes de suportar adversidades, mas se quiser por à prova caráter de um homem, dê-lhe poder.”.
Se  Abraham Lincoln estivesse entre nós, estaria atônito com a atual faceta mundial. Hoje, por à prova o caráter homem não requer poder, é necessário simplesmente conhecê-lo.

A mudança só ocorrera com gerações futuras, hoje, estamos perdidos. Ressalto medidas paliativas tenham resultado momentâneo e ardiloso.
Hipocrisia ressoa mais alto que qualquer outro sentimento. Pregamos um país justo, mas somos os primeiros a postergar com atos e ações de tirania. Falta de escrúpulos com seu semelhante, desde irmão, passando pelo vizinho abalroando o desconhecido tornou-se trivial.

Somos jovens anatomicamente, mas arcaicos, obsoletos e retrógrados em relação à ética, respeito, justiça e exemplo para com gerações vindouras.
Novamente ressalto as características marcantes de nossa atual sociedade: hipocrisia em níveis alarmantes; egoísmo exacerbado; narcisismo, afinal, se eu não gostar da minha pessoa, quem o fará? Egocentrismo presente em todas as esferas “democráticas”.

Soluções? Primordialmente o egoísmo deve, imprescindivelmente, ser jogado no báratro do ostracismo, bem como quaisquer atos levianos.
Por fim, o póstero sempre está começando agora.