O Barrense


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Anjo ou demônio?

Trecho de noticia do dia 07 de abril, um pacato domingo:

“Doze civis morreram no sábado, durante um ataque aéreo das forças comandadas pelos americanos numa aldeia do distrito de Shigal, província de Kunar, junto à fronteira com o Paquistão. Segundo a Reuters, os mortos são 11 crianças e uma mulher. Seis outras mulheres ficaram feridas.”

Estarrecedor, não?

Há quem afirme que Obama é um anjo, salvador da classe oprimida, obviamente cidadãos americanos, porém, do outro lado do globo, julgam-no como demônio, carrasco entre outras denominações.

Em passado recente, o Presidente da super potencia norte americana, Barack Obama, chorou ao receber a notícia do massacre na cidade de Newtown, em Connecticut, quando um jovem norte-americano, Adam Lanza, de 20 anos, matou 26 pessoas em uma escola primária, sendo 20 crianças de 6 e 7 anos, além de sua mãe, morta minutos antes da chacina na própria casa.
Na televisão, em cadeia nacional, Barack Obama verteu lágrimas como um verdadeiro crocodilo. Como é possível chorar pelas 20 crianças covardemente assassinadas em Connecticut e ao mesmo tempo ordenar a chacina de milhares de crianças no Afeganistão, Paquistão, Iraque, Líbia, Palestina, Síria, entre outros países?

Nenhuma dos milhares de vítimas inocentes das guerras promovidas pelos EUA mereceu uma gota de lágrima do atual mandatário estadunidense ou de seus antecessores. O processo de relativização da vida humana segue a passos largos.

Moazzam Begg, ex-detento de Guantánamo e porta-voz Cageprisoners (Oganização cujo objetivo é ajudar os detidos ou mortos ilegalmente como parte da guerra global ao terror.) manifestou sua opinião em relação a Obama:

– Mudança de Bush para Obama? A mudança é de detenções extrajudiciais para mortes extrajudiciais. Obama prometeu transformar a América. Elas estão acontecendo. Mortes extrajudiciais – disse Moazzam.

Realmente é terrível essa guerra “clean” dos drones estadunidenses, “clean” e cínica, pois classifica essas crianças mortas de “danos colaterais.”.

A “fonte” de tanto ódio é conhecida por todos. O famoso “mundo árabe”. Lar de “terroristas”. Ao utilizarmos o termo “mundo árabe”, rotulamos e definimos a existência de dois mundos, o nosso e o deles. E o que acontece lá, no deles, não nos importa tanto. Como se fossem menos humanos.
Dentro desse “mundo árabe” nós tendemos a colocar não só os povos árabes, mas todos os persas, os afegãos e muitos outros povos. Povoamos também esse mundo com todos os muçulmanos do planeta.
Acredito que essas divisões artificiais como mundo árabe ou a dicotomia entre oriente e ocidente só sirvam para aumentar nossos preconceitos e nossa ignorância sobre a complexidade enorme de povos, religiões e culturas.
E assim, jogando todos num mundo diferente, fica bem mais fácil de bombardeá-los.

“Os inocentes mortos no Iêmen – ou no Afeganistão, ou no Iraque – têm escasso valor, quando comparados aos inocentes mortos no Ocidente. São vítimas invisíveis, ignoradas no mundo — choradas apenas num canto que para nós, ocidentais, não é nada.” Paulo Nogueira.

Em 2001, quando Obama nem sonhava em ser presidente dos EUA, o jornalista e escritor Werneck de Castro, da Folha de São Paulo, desvendava o mistério opinando: “Conflitos constantes são necessários, periodicamente, para alimentar o rendoso “business” das armas e testar as inovações tecnológicas na arte do extermínio em massa”. Este sim, é o verdadeiro nó da questão, não as lágrimas do presidente. Neste caso, o tiro está saindo literalmente pela culatra, com a ‘criatura’ se voltando contra seu próprio criador (Exemplos: massacre em Connecticut e atentado em Boston).

E pensar que Barack Obama, o homem que há menos de um ano conduz os destinos da superpotência Estados Unidos, é agraciado com o Prêmio Nobel da Paz logo no seu primeiro ano de mandato.

Obama, Obama. Você será reconhecido por anjo da morte? O mercador de almas?