O Barrense


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Mini Mundo: Sonhos não sonhados

Minu Mundo coluna

O menino que em outrora nos habitava, cultivando sonhos, passa a residir em algum lugar remoto, inacessível. Um cemitério de sonhos, inóspito, onde o coveiro – menino – segue sua rotina, na esperança de não mais enterra-los, mas vive-los, e finalmente fechar os portões deste local que o atormenta.

Em algum receptáculo oculto o destino guarda algo bom para você. A esteira de sonhos segue em sua rotina. Mas, de alguma maneira inexplicável, este não foi um sonho sonhado. Talvez ocorreu-me um lapso onírico e não pude idealizar este evento surpreendente.

Certas vivencias nos brindam quando ultrapassam a fronteira entre o real e o imaginário. Semelhante ao peixe que habita o vasto e profundo oceano, mas, em raros momentos de beleza inigualável, salta, abandonando seu habitat, e refrescando-se, mesmo que efemeramente, com a brisa marítima. Assim são os sonhos. Peixes habitando um imensurável oceano, e, em oportunidades especificas, se desvinculam do manto quimérico e são fisgados para o barco da realidade.

Um dos caminhos mais eficazes para a frustração é criar expectativas. É da natureza humana esperar que algo muito desejado aconteça rapidamente.
E, quando vivemos de modo inconsciente, não conseguimos perceber este jogo que nos leva sempre a esperar pela realização urgente de nossas esperanças e a sentir uma grande decepção quando elas não se concretizam.

O encanto de sofrer este lapso onírico e não ter expectativa alguma em relação ao póstero tem como resultante ser agradavelmente surpreendido. Deixo-me embalar pelo acaso. Seu frescor acariciando meu rosto sem responsabilidade alguma. Minha vara de pesca segue na água, serpenteando entre peixes, vacilando nas vagas.

Neste mar de sonhos você deve estar se perguntando o que foi que fisguei. Tenha absoluta certeza que jamais esperaria tal espécime. Alias, um cardume. Raríssimo. O mundo como conhecia fora abalroado. Perdi meu norte. Meus polos inverteram. Confesso que fiquei receoso de adentrar neste mundo, ate então desconhecido. Titubeei ao receber o exótico “convite”. Inesperado. Estagiar com deficientes intelectuais.

Fitava os portões do novo mundo. Curioso a respeito de suas peculiaridades. Cético quanto a minha capacidade. Mergulhei em meu âmago e encontrei corajem necessária para aceitar tal proposta. Adentrei nos portões do novo mundo com incerteza no olhar, mas, convicto de que o “eu” de antes ficara nos portões, e, o “eu” de agora, transformado permanentemente, indubitavelmente.

A experiência de estagiar com este publico alvo tornou-se divina. Algo que não me imagino sem no futuro.

Minha isca segue no mar, serpenteando. A procura do inimaginável. O sequer sonhado.