O Barrense


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Mini Mundo: Formiga

Minu Mundo coluna

Se tivéssemos agendado o dia da nossa morte, será que faríamos tudo como fizemos? Porque quando nos deparamos com a vida mesmo, ao perceber que a morte existe, entramos em desespero. A vida mesmo, pura e destilada, nos dá medo. Não é a morte que nos assusta, é a vida. É ela que enxergamos, ao mirarmos, por transparência, a morte. Notamos o balanço da corda bamba em que caminhamos diariamente. Perdemos o equilíbrio sobre a tênue linha entre a vida e a morte. Linha esta que, a cada passo, tentamos não olhar para baixo.

Definitivamente só passamos a dar valor à vida quando o extremo da mesma bate a nossa porta. A morte.

Diariamente subestimamos o que esta ao nosso redor. Desdenhamos nosso inimigo sem conhecê-lo. Ontem o fiz.

Amo o futebol. Ainda que este tenha me pregado peças incessantemente. Uma relação de amor e ódio, mas convivemos. O desporto me completa, sacia minha sede.

Naturalmente joga-se futebol em campos. Lindos tapetes verdejantes onde desfilam chuteiras e um objeto esférico. Porém, minha desgraça habita o campo: formigas. Inseto nanico cuja existência é desprezada. Averiguei de forma danosa sua existência.

Uma mordida bastou. Pipocou, coçou, pressão caiu, enuviou os sentidos. Desmaiei.

Decididamente tamanho não é documento. Uma reles formiga fez imenso estrago em meu organismo. Inseto abundante no planeta e com uma simples e cruel pisada o aniquilamos. A banca paga e recebe. Bem como pisoteamos descomunal quantidade de insetos rastejantes, por motivo vil, eles revidam como medida de autodefesa. Demarcam e defendem seu território de invasores hostis.

David versus Golias. Embate desproporcional e, a principio, covarde.
Um dos combatentes, armado com todos os apetrechos que inevitavelmente proporcionaria uma vitoria inapelável a luta:espada, armadura, faca, escudo, elmo e obviamente, o cavalo!
O outro, além de fé e os pés no chão: apenas uma funda na mão.
O primeiro, o poderoso Golias; o segundo (o ate então, frágil David).
Reza a lenda que Golias, guerreira nato, ao contemplar seu oponente riu às escancaras:
“Será por ventura, eu um cão para ser batido a pão e pedra?!” vociferou, acelerando e peleja… O resto todo mundo já sabe.

O fato e a passagem têm muito de verossimilhança com a realidade, haja vista tamanha insignificância do oponente contra um gigante de força e voracidade!

Frente a tal acontecimento, meu fiapo de vida esta nas mãos de remédios que fazem contrapartida ao veneno de tais insetos.

Segundo a lenda grega, Aquiles, filho do rei Peleu e da deusa Tétis, tornou-se invulnerável quando, ao nascer, foi banhado pela mãe nas águas do rio Estige. Apenas o calcanhar por onde Tétis o segurou não foi molhado e continuou vulnerável.
A exemplo do herói da mitologia grega, possuo vulnerabilidade. Bem verdade amplo e com infindáveis “inimigos”.

O evento fez-me refletir sobre nossa existência. Ainda que digam que somos poeira de estrelas, residentes de um pálido ponto azul, situado na periferia da via láctea e insignificantes frente imensidão do universo. Divirjo.
Somos o que desejamos ser, somos o que adoramos, somos a nossa carência do saber do compreender de querer ser protegido por uma força maior, somos a representação da capacidade de nos tornamos ilimitados, e o tempo?
O tempo é apenas um adereço pra impor limites, e barreiras pra cada coisa ter sua vez na ordem correta. Assim como a forma que a areia se organiza, ao passar pelo meio da ampulheta.

Renovei minha fé.